AS MULHERES DE PURI
Quando as estradas ficarem prontas,
mulheres de Puri,
alguém se lembrará de vossos vultos azuis
entre os templos e o mar.
Alguém se lembrará de vosso corpo agachado,
deusas negras de castos peitos nus,
de vossas delgadas mãos a amontoarem pedras
para a construção dos caminhos.
Quando as estradas ficarem prontas,
mulheres de Puri,
alguém se lembrará que está passeando sobre a sombra
de vossos calmos vultos azuis e negros.
Alguém se lembrará de vossos pés diligentes,
com pulseiras de prata clara,
Alguém amará, por vossa causa, o chão de pedra.
E vossos netos falarão de vós,
mulheres de Puri,
como de ídolos complacentes,
benfeitores e anônimos,
e entre os ídolos ficareis, inacreditáveis,
mudas, negras e azuis.
"Mulheres de Puri" (Poemas Escritos na Índia, de Cecília Meireles)
O poema fora escrito na década de 60 durante a viagem da autora à Índia, e ainda hoje, continua transcrevendo uma triste realidade. Triste, pois tal trabalho não traz emancipação a tais mulheres, visto que por um trabalho tão pesado continuam a ganhar muito menos que os homens e ainda têm de conciliar o ofício com o cuidar dos filhos.
Fonte da Imagem: http://www.rediff.com/money/slide-show/slide-show-1-special-the-4-big-constraints-to-indias-growth-story/20130614.htm#3