468x60

A Índia e a Astronomia

sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Calendário Hindu, por volta de 1.850
Os antigos hindus diziam que o universo era uma noite de sonho cósmico de Brahma.
Este sonho de 4.320 anos terrestres, era guardado por Shiva, o Senhor da Dança Cósmica.
Quando Brahma acordar, o Universo terminará.
A sociedade civilizada surge na Índia, assim como na Mesopotâmia (Iraque) e Egito; seria a Idade do Bronze. Isso seria por volta de mais de 3.000 aC.
Esta cultura anciã, extinta em 2.000 aC, usava o sistema de números decimais e sua escrita era pictográfica.
Passou a ser influenciada fortemente pelo povo Ariano, seus invasores que falavam o Sánscrito e assim as tradições eram transmitidas oralmente pelo  seus sacerdotes brahmanes.
Pouco antes da Era Cristã, adotou-se uma escrita alfabética e começou todo um trabalho de recompilação do conhecimento Hindu Antigo. Esses Compêndios Antigos, Os Vedas, contém as primeiras referências astronômicas no que diz respeito ao Sol , a Lua e as estrelas. Estranhamente não existem qualquer referências aos planetas. 

Os astrônomos Hindus conheciam as obras de Hiparco, mas não as de Ptolomeu. Neste sentido podemos afirmar que em algum momento entre e 150 aC e 140 dC ocorreu uma importante transição, mas após 664 dC praticamente tudo foi perdido com a invasão muçulmana.

Grandes Astrônomos Hindus, Varahamihira (505 dC) e Brahmagupta (628 dC) trabalharam no observatório astronômico de Ujjain.
Varahamihira construiu um compêndio da astronomía hindu: Os Siddantas. Nele é dito que o conhecimento astronômico Hindu viria do Ocidente (Yavanas).

Curiosidade sobre o Calendário Hindu:
De acordo com suas crenças, o povo Hindu tem o tempo dividido em yugas, cujo período diminui à medida que o tempo passa, numa metáfora do declínio da humanidade.
Atualmente, a Era Hindu está no último yuga - o mais degenerado - iniciado em 3102 a.C. e que terminará daqui a 432 mil anos.
O calendário hindu, criado em 1000 a.C e hoje usado apenas para calcular datas religiosas, é dividido em 12 meses, mas cuja soma fica em 354 dias. Para resolver a diferença, acrescenta-se um mês a cada 30 meses.

O universo para os hindus era dividido em três regiões (a Terra, o firmamento estrelado e o céu). O calendário hindu era baseado o movimento dos astros principais, o Sol e a Lua. Contava-se o mês marcando  ciclo da Lua Nova ou Lua Cheia. Há pouco da astronomia hindu com relação aos planetas do sistema solar, porém um fato importante era a crença na existência de dois planetas, além dos cinco visíveis, (Katre e Rahu), planetas responsáveis pelos eclipses solares.
        
O interesse hindu pelas estrelas foi muito vago, não passando de poucas observações às estrelas pertencentes a eclíptica. Apesar do pouco interesse os hindus reconheciam alguns grupos e chegaram dar nomes as mais brilhantes, por exemplo: as Plêides, Castor e Pólux, Vega e Espiga. 

A antiga astronomia hindu não foi baseada em apenas confecções de calendários. Sob a influência persa por volta do século V a.C. e grega em meados do século II, os hindus constituiram a base, principalmente matemática, para os trabalhos de Ariabata I, que mediu distâncias e tamanhos tanto do Sol como da Lua com boa precisão.

Os instrumentos usados na astronomia hindu eram os mesmos de toda antiguidade: o gnômom, os círculos e meios círculos, a esfera amilar, o relógio de água e o astrolábio.
 
Samrat Yantra - em Jaipur, o maior relógio de Sol  do Mundo
Base do Samrat Yantra
No princípio do século XVIII o marajá Jai Shing II, interessado por Matemática e Astronomia, conhecedor dos instrumentos de observação e medida usados desde a Grécia Antiga e dos saberes perpetuados pela tradição islâmica, entendeu que a melhor maneira de fazer medições precisas era utilizar instrumentos de grande dimensão. Mandou então construir na Índia cinco grandes observatórios astronómicos em locais diferentes: Jaipur, Mathura, Urjain, Varanasi e Delhi, actual capital. Quatro ainda subsistem nos dias de hoje; apenas o de Mathura foi destruído.
  
Qualquer um destes observatórios era composto por vários instrumentos de grande escala construídos em pedra e argamassa, ou seja, verdadeiros conjuntos arquitectónicos dispostos de acordo com as posições e movimentos dos astros numa espécie de urbanismo cósmico. O maior destes conjuntos foi edificado em Jaipur e possuía quinze instrumentos, entre os quais um colossal relógio de sol - o Samrat Yantra. Este edifício compunha-se de uma rampa de alvenaria de pedra em forma de triângulo rectângulo com cerca de 25 metros de altura e de um arco virado para cima que atingia os 13 metros.

O triângulo, alinhado com o meridiano do local, funciona como gnómon e projecta a sua sombra sobre a superfície curva do arco. Esta superfície, de 3 metros de espessura, é um enorme mostrador feito em mármore polido onde foram feitas milhares de incisões correspondentes a unidades temporais. A precisão deste instrumento é tal que podemos conhecer a hora exacta através da posição do Sol com um desvio máximo de 2 segundos!
 
Em New Delhi, é posssível conhecer o observatório de astronomia Jantar Mantar
Durante o período védico, que durou aproximadamente do século XV a.C. até o século XI d.C., fez-se alguma observação do céu, e o universo foi dividido em três regiões distintas (a Terra, o firmamento estrelado e o céu), cada qual submetida, por sua vez, a três subdivisões. A trajetória do Sol foi descrita, provavelmente, como fizeram os chineses, observando-se as estrelas que estavam ao sul à meia-noite e, portanto, em oposição ao Sol, ao passo que também se observava a Lua e se elaboravam calendários com base nos movimentos desses dois astros.
 
Parece ter havido duas formas de calcular o mês: uma contando de lua nova a lua nova, a outra, de lua cheia a lua cheia. Então, por volta de 1000 a.C., passou-se a usar um ano de 360 dias, dividido em 12 meses de 27 ou 28 dias: isso levando-se em consideração que devem ter observado essa trajetória da Lua contra o fundo formado pelas estrelas (27, 32 dias). Na verdade, 12 x 27 dá um total que é 36 dias menor que o ano de 360 dias, mas se o cálculo é feito entre duas luas cheias (ou novas), seria mais apropriado um mês de 30 dias, correspondendo ao período de 360 dias. Os hinos védicos dão os dois valores (27 e 28), mas parece que o período foi sendo alterado com o passar dos anos, pois em 100 a.C. um texto védico "a respeito das luminárias" refere-se também ao mês "teórico" de 30 dias. Mesmo assim, isso daria um calendário 5,25 dias mais curto que o ano solar, e os hindus vedas tinham dois métodos para lidar com ele: ou adicionar um mês extra a intervalos regulares ou somar cinco ou seis dias a um ou mais meses. Tentaram ambos, e por fim adotaram a primeira alternativa.
 
Ao que tudo indica, os planetas não exerciam muita atração sobre os hindus, mas há algo intrigante a respeito deles. Cinco plane- tas brilhantes são visíveis a olho nu, mas os hindus imaginavam que havia ainda dois outros "corpos", Rahu e Ketu, que introduziram como responsáveis pelos eclipses solares. Uma vez que tais eclipses só ocorrem quando o Sol está em um ponto em que sua órbita aparente (a eclíptica) cruza a órbita da Lua, considerava-se que Rahu e Ketu se localizavam, presumivelmente, nesses pontos, embora o significado preciso dos termos seja difícil de determinar, de vez que a palavra "Ketu" também é utilizada para se referir a fenômenos incomuns como cometas e meteoros.
 
As estrelas igualmente não encantavam os astrônomos da Índia antiga, eles não preparavam catálogos de estrelas, como fizeram gregos e chineses, e parecem ter encarado as estrelas apenas como um guia para os movimentos do Sol e da Lua, dos quais precisavam, naturalmente, para a confecção do calendário. Assim, as estrelas que despertavam seu interesse eram as que se localizavam ao longo da eclíptica, e estas eles dividiram em 28 naksatras, cada qual com o comprimento de cerca de 13 graus. Entretanto, apesar dessa concepção utilitária, reconheciam alguns grupos de estrelas e batizaram algumas das estrelas mais brilhantes - por exemplo, as Plêiades, Castor e Pólux, Antares, Vega e Espiga.
 
Os pontos de vista mencionados até agora foram modificados pelos jainistas. Eram os seguidores do jainismo, religião fundada no século VI a.C. por Vardamana Maavira, como protesto contra o antigo ritual ortodoxo védico. Tinha por finalidade o aperfeiçoamento da natureza humana, principalmente por meio de uma vida monástica e ascética, rejeitava a idéia de um deus criador e pregava que não se deveria ferir qualquer criatura viva. Religião dualista, via a realidade constituída de duas entidades e, na astronomia, seus seguidores pensavam em dois sóis, duas luas e dois conjuntos de naksatras; segundo essa crença, nosso planeta era visto como uma série de anéis concêntricos constituídos de terra, separados por anéis concêntricos de oceanos. O círculo mais interior, ou Jambudvipa, era dividido em quatro quartos, tendo ao centro a sagrada montanha Mero; a Índia era o quarto mais ao sul, e considerava-se que o Sol, a Lua e as estrelas seguiam trajetos circulares em torno da montanha Mero, como ponto pivô, e moviam-se paralelamente à Terra. Teoricamente, o Sol devia prover a luz do dia a cada quarto, sucessivamente, mas, uma vez que o dia durava 12 horas, ele só podia cobrir dois dos quartos a cada 24 horas. Por essa razão, eram necessários dois sóis, duas luas e dois conjuntos de estrelas.

Para que não se imagine que toda a astronomia indiana antiga tenha sido, de certo modo, vaga e imprecisa, e que o cálculo do calendário era tudo o que interessava aos seus astrônomos, deve-se enfatizar que eles manifestaram interesse em aplicar medidas e métodos numéricos ao céu. No fim do século V a.C., quando a dinastia persa dos Aquemênidas controlava o noroeste da Índia, a astronomia e a literatura mesopotâmicas fluíram para o país. No século II d.C., houve um influxo da astrologia grega e, mais tarde, chegaram outros materiais astronômicos gregos (alexandrinos) , isso fornecendo tabelas de posições planetárias para serem desenhadas e uma teoria planetária grega para ser trabalhada, enquanto se faziam tentativas de medir os tamanhos e as distâncias tanto do Sol quanto da Lua. Essa concepção mais matemática desenvolveu-se fortemente do século VI em diante, e sua personagem mais importante parece ter sido Ariabata I, que nasceu em 476 e trabalhou na região de Parma. (É conhecido como Ariabata I para que possamos distingui-lo de outro astrônomo, Ariabata II, que viveu no fim do século X e princípio do século XI.) As tentativas de Ariabata I de fazer suas medidas parecem ter sido baseadas nos métodos de Hiparco e eram, presumivelmente, derivadas do Almagesto. Os valores que ele obteve não eram muito diferentes, sendo um pouco grandes para a Lua, mas muito menores para o Sol - na verdade bastante pequenos, na ordem de quase 28 vezes -, e até algumas medidas feitas mais tarde por Bascara II, que nasceu cerca de seiscentos anos depois de Ariabata, ainda apresentavam erros; de fato, não eram tão exatos quanto os de Ariabata em relação à Lua, embora seus erros com respeito ao Sol tenham sido apenas dezenove vezes menores. 

Novamente, o esquema de Ptolomeu para o movimento planetário foi adotado durante os primeiros séculos depois que o Almagesto foi escrito, embora Ariabata I tenha lançado a idéia de uma Terra em rotação.
Os instrumentos de observação usados pelos astrônomos hindus eram aqueles utilizados em toda a Antiguidade: o gnômon, os círculos e meios círculos para se achar as distâncias dos corpos celestes acima do horizonte e ao longo da eclíptica, a esfera armilar e os relógios de água - embora eles tenham adotado o astrolábio e os instrumentos gigantes, construídos em alvenaria, que herdaram, mais tarde, dos astrônomos muçulmanos. Nas técnicas de observação, por- tanto, não apresentaram grandes inovações; na verdade, os belos e famosos observatórios equipados com instrumentos de alvenaria construídos em Deli e Jaipur, sob a orientação de Jai Singh, no século XVIII, eram, até certo ponto, anacrônicos. Eles seguiram uma tradição com mais de três séculos de existência e não acompanharam as medições celestes européias que usavam telescópios, as quais ofereciam maior precisão do que as obtidas com instrumentos de alvenaria, por maiores que fossem.
Outro aspecto da astronomia hindu que merece pelo menos breve menção foi sua preocupação com os ciclos de longa duração. Um deles era o mahayuga, um período de 4 320 000 anos; é quatro vezes 1 080000, o menor número de anos que contém um número inteiro de dias civis, supondo-se que o ano tenha a duração de 365,25874 dias. (Isso se aproxima do número moderno de 365,25964 dias para o ano medido do ponto da órbita terrestre mais próximo do Sol e retomando ao mesmo ponto). Mais tarde, Ariabata I usou o valor de 1 728000 para o que é conhecido como a Idade de Ouro, 1296000 anos para a Idade de Prata, enquanto a metade e um quarto da Idade de Ouro dava como resultado outros ciclos. Considerava-se que o último desses períodos, 432000 anos - a Idade de Ferro -, teria começado a 17 ou 18 de fevereiro de 3102 a.C., quando os planetas estavam todos em conjunção (juntos no céu); esse período era visto como um ciclo ao fim do qual os planetas estariam novamente em conjunção.
Os budistas também usavam ciclos longos de tempo, indicando períodos para a destruição e o renascimento cíclicos do universo. Concebiam também uma pluralidade de universos, cada qual construído no padrão do babilônico: a Terra circundada por um oceano além do qual havia uma cadeia de montanhas que suportavam o céu. Mas, quer os ciclos fossem budistas ou hindus, envolviam números muito grandes, e sua escrita e manuseio eram um dos requisitos que o astrônomo indiano exigia da matemática. 

[in Ronan, C. História Ilustrada da Ciência de Cambridge. Rio de janeiro: Zahar, 1986.]

0 comentários:

Popular Posts

Related Posts with Thumbnails